Historia da Igreja I
Doas apóstolos até os pré-reformadores
Introdução
A origem da Igreja está na pessoa histórica de Jesus Cristo, o Messias prometido a Israel para as nações.
Podemos considerar três períodos na formação do Cristianismo:
1º. Cristianismo primitivo: caracterizado pela ruptura com o judaismo, pelo estabelecimento de comunidades entre os não-judeus e cujo principal expoente foi o apostolo Paulo.
2º. Patrística: ocorrida no período entre os séculos 2 e 8, com a transformação do cristianismo em uma Igreja oficial do Império Romano e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho.
3º. Igreja Medieval: com a consolidação da teologia escolástica a partir do século 8 e cujo expoente foi São Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.
A partir do protestantismo as diversas denominações evangélicas se formaram.
Cristianismo Primitivo
O cristianismo começou como uma seita judaica e se tornou uma fé universal. A igreja, como comunidade dos crentes que confessam Jesus como Messias, é o povo de Deus eleito, a legitima continuação de Israel do Antigo Testamento. O cristianismo também é uma ruptura com o judaísmo nas seguintes características próprias:
1ª. Catolicidade (universalidade) da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo preferido;
2º. Rompimento com o culto no templo devido ao reconhecimento de que Jesus Cristo ofereceu-se a si mesmo como único sacrifício e como único sacerdote perfeito. Como conseqüência a abolição da lei cerimonial levitica;
3º. Reconhecimento da ordem política gentílica romana como de origem divina (Romanos 13:1-5) e, conseqüente abandono das leis civis prescritas para Israel como entidade política.
A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram evangelizado aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Filipe prega em Samaria, o eunuco da rainha da Etiópia é batizado, bem como o centurião romano, Cornélio. Em Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os gentios e passam a ser chamados de cristãos (Atos 11:19-26).
Centros de irradiação do Evangelho foram estabelecidos pelos apóstolos em cidades-chaves, as Sés, ou sedes: São Marcos, por exemplo, inicia a Igreja de Alexandria, no Egito, de onde descende hoje a Igreja Copta, e as Igrejas da Etiópia e da Eritréia, no Leste da África. São Tomé evangeliza em Antioquia, e, segundo a tradição, chega à Índia. Dele descende hoje as Igrejas Ortodoxas Antioquinas, Sirianas e Mar Thoma.
Patristica
Período de consolidação estrutural, litúrgica e doutrinaria do cristianismo. Foi um período de crescimento numérico da Igreja, de Catequese, de atividade teológica e, apesar das perseguições, foi também um período de expansão através do Império.
Para defender-se das heresias a estabeleceu o Cânon (lista oficial) do Novo Testamento, as doutrinas nucleares nos Credos batismais e, por fim, no credo Niceno com os concílios ecumênicos. Foi estabelecida a tríplice ordem ministerial, com os Bispos sucedendo os apóstolos, ao lado dos Presbíteros e dos Diáconos.
Os pais da Igreja
Os Pais da Igreja foram teólogos e mestres doutrinários dos primeiros séculos do cristianismo, eles foram responsáveis em grande parte pela definição das doutrinas cristãs como as conhecemos hoje. A lista dos que merecem o título de Pai da igreja é vasta. Veja alguns principais:
Pais Ante-Nicenos
Os Padres Apostólicos (continuadores diretos dos Apóstolos, c. 80-150):
- Hermas – Escritor cristão, autor de “O Pastor”, um livro escrito entre 88 e 97 d.C. em Patmos, perto de Éfeso.
- Clemente bispo de Roma entre 88 e 97 e autor da Epístola de Clemente, endereçada à Igreja de Corinto.
- Inácio (67-110 d.C.) foi Bispo de Antioquia, discípulo do apóstolo João, também conheceu Paulo. Escreveu sete cartas: a Policarpo, aos Efésios, aos Esmirniotas, aos Filadélfos, aos Magnésios, aos Romanos e aos Tralianos. Preso por ordem do imperador Trajano e condenado a ser lançado às feras em Roma. Daí de sua bela e famosa expressão ter sido: “trigo de Cristo, moído nos dentes das feras”. E na iminência do martírio prometeu aos cristãos que mesmo depois da morte continuaria a orar por eles junto de Deus (Inácio – Tralianos 13:3).
- Policarpo (70-160) foi bispo de Esmirna e discípulo de João o Evangelista. Proferiu estas palavras: “Há oitenta e seis anos sirvo a Cristo e nenhum mal tenho recebido Dele. Como poderei rejeitar Aquele a quem prestei culto e reconheço o meu Salvador”.
Segunda metade do século 2 e 3 (pais apologetas):
- Justino o mártir (100-165 d.C.). foi o primeiro filosofo cristão; escreveu 2 apologias em defesa dos cristãos e sua terceira obra foi Diálogo com Trifão.
- Ireneu de Lyon (ca. 130-202), discípulo de Policarpo. A sua principal obra, que chegou até aos dias de hoje, foi Adversus Haereses (contra as heresias), escrita para combater o Gnosticismo.
- Orígenes de Alexandria (185-253 d.C.). O maior erudito da Igreja antiga. Assumiu, em 203, a direção da escola catequética em Alexandria e atraiu muitos jovens estudantes pelo seu carisma, conhecimento e virtudes pessoais. Em 231, Orígenes foi forçado a abandonar Alexandria devido à animosidade que o bispo Demétrio lhe devotava pelo fato de se ter feito eunuco no sentido literal e físico desta palavra. Também, por ter levado ao extremo a apropriação da filosofia platónica, tendo sido considerado herético. Orígenes, então, abrinu a chamada Escola de Cesaréia. Na sequência da onda de perseguição aos cristãos, ordenada por Décio, Orígenes foi preso e torturado, o que lhe causou a morte, por volta de 253. Orígenes escreveu – diz-nos Jerónimo – nada menos que 600 obras, entre as quais as mais conhecidas são: De Princippis; Contra Celso e a Hexapla. Escreveu comentários bíblicos e centenas Homílias.
- Tertuliano de Cartago (155-222). Formou-se como jurista e exerceu advocacia em Roma. Converteu-se ao Cristianismo por 193, e estabeleceu-se em Cartago, pondo a sua erudição ao serviço da fé. Em 207 aderiu ao montanismo.
Pais Nicenos (Século 4):
- Eusébio (265-339) foi bispo de Cesareia e é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do Cristianismo primitivo (História Eclesiástica).
- Atanásio (295-373). Foi uma das pessoas mais influentes na história da Igreja. Se opôs ao arianismo defendendo a consubstanciação das três pessoas divinas, tal como definido pelo Concílio de Niceia, em 325, no Credo Niceno.
Padres Pós Nicenos
- João Crisóstomo (349-407) foi Patriarca de Constantinopla no fim do século 4 e início do 5. Sua deposição em 404 produziu uma crise entre a Sé Romana e a Sé Patriarcal. Pela sua inflamada retórica, ficou conhecido como Crisóstomo (que em grego significa «boca de ouro»). Escreveu uma liturgia, a Liturgia de S. João Crisóstomo, que é usada na maior das igrejas orientais.
- Agostinho de Hipona (354-430). Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e se converteu ao cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Agostinho foi um autor prolífico, suas principais obras foram as Confissões (autobiografia) e a Cidade de Deus. No fim da sua vida revisitou os seus trabalhos anteriores e escreveu as Retrações mostrando o desenvolvimento de seu pensamento.
- Os Pais Capadócios, por serem da Capadócia: os dois irmãos, Basílio de Cesaréia (329 – 379) e Gregório de Nissa (329 ou 330-390), e Gregório de Nazianzo (330- 395). Trabalharam juntos pela fé Nicena, criando as formulas que tornaram compreensível e aceitável a doutrina da Trindade.
Perseguição sob o Império Romano
Depois da chegada da fé cristã à Roma, começam as perseguições por parte do Império.
Houve dez grandes perseguições encabeçadas pelos imperadores romanos: Nero, Domiciniano, Trajano, Adriano, Marco Aurélio, Sétimo Severo, Maximino, Décio, Valeriano e Diocleciano.
Nero queria fazer dos cristãos os bodes expiatórios do incêndio na capital em 64 d.C. As formas de execução utilizadas pelos romanos incluíam crucificação e lançamento de cristãos para serem devorados por leões e outras feras selvagens. Uma fonte cristã mais recente (Sulpício Severo) relata: “Naquele tempo, Paulo e Pedro foram condenados a morte, sendo o primeiro decapitado com a espada enquanto Pedro sofreu a crucificação”.
Eusébio indica que, por volta do ano de 95, Domiciano baniu muitos cristãos de Roma, inclusive sua sobrinha Flávia Domitila. Outra evidência indireta de perseguição sob o governo desse imperador foi a expulsão de João de Patmos (Ap 1:9) e alguns comentários em 1Clemente.
A carta de Plínio, governador Bitínia (uma província romana na parte setentrional da Ásia Menor), para Trajano (cerca de 112 d.C.) contém uma referência explícita à perseguição. Ele pediu conselho ao imperador sobre se deveria tomar medidas contra aqueles que eram acusados de serem cristãos. Ele relatou que havia usado de tortura para interrogar “duas escravas, que eles chamam de diaconisas”, para saber mais sobre as práticas cristãs. Inácio, bispo de Antioquia, foi para Roma durante o reinado de Trajano e lá sofreu o martírio. Policarpo também foi martirizado em Esmirna depois de recusar-se a negar a Cristo com estas memoráveis palavras: “Oitenta e seis anos eu O servi e Ele não me fez mal algum. Como posso, então, blasfemar contra meu Rei que me salvou?”.
Justino Mártir foi morto durante o governo do imperador Marco Aurélio que desdenhosamente chamava os mártires de tolos obstinados.
Os cristãos que se recusavam a tomar parte nas cerimônias e atividades pagãs eram suspeitos de serem desleais e anti-sociais. Por tratarem uns aos outros como “irmãos” e “irmãs” e encontrarem-se em segredo, eram acusados de imoralidade. Referências feitas na Ceia do Senhor sobre comer o corpo e beber do sangue de Cristo davam origem à suspeitas de canibalismo.
A primeira perseguição que envolveu todo o território imperial aconteceu sob o governo de Maximino, apesar do fato de que apenas o clero tenha sido visado. A primeira tentativa sistemática de eliminar o Cristianismo por todo o império ocorreu em 250 sob o governo de Décio. Ele exigiu que todos fizessem oferendas em honra a ele próprio e proferissem juramentos pela fortuna dele como demonstração de sua lealdade. As pessoas tinham que obter um libelo, um documento que atestava que haviam feito um sacrifício. Durante essa época, literalmente centenas de pessoas foram martirizadas por causa de sua fé.
Cipriano, bispo de Cartago, descreve em seus escritos os problemas gerados pelas perseguições. Para seu desespero, amedrontada, a maioria dos cristãos abandonava a fé e oferecia sacrifícios para se proteger. O próprio Cipriano se escondeu e justificou esse ato referindo-se ao conselho de Jesus para fugir (Mt 10:23). Alguns compravam libelos sem ter na verdade feito os sacrifícios. Depois do falecimento de Décio, os líderes da Igreja assumiram posições diferentes em relação àqueles que fraquejavam. Novaciano de Roma, adotou a postura mais rigorosa e excluiu todos aqueles que haviam negado a fé. Porém, Cipriano e Cornélio, os bispos de Roma concordaram em aceitar de volta à comunhão aqueles que haviam comprado libelos depois da devida demonstração de arrependimento, enquanto aqueles que haviam de fato realizado sacrifícios só seriam readmitidos em seu leito de morte.
O clímax da perseguição se deu sob o governo de Diocleciano e seu assistente Galério, no final do século terceiro e início do quarto. Esta é considerada a maior de todas as perseguições. Iniciando com uma série de quatro editos ordenando: 1) a destruição das igrejas e a queima das Escrituras e ou outros objetos sagrados; 2) prisão de líderes da Igreja; 3) pressão para os lideres de igreja fazerem sacrifícios para o imperador e a anistia caso eles fizessem sacrifícios; 4) todos os cristãos a fazerem sacrifícios ou enfrentar a pena de morte ou trabalho forçado.
A perseguição cessou quando Diocleciano se aposentou em 305. Galério admitiu que essa política havia fracassado e lançou um édito de tolerância em 311, enquanto sofria de uma terrível doença que certos membros da Igreja da época interpretaram como sendo castigo divino.
O Império Romano reconheceu o cristianismo como uma religião licita em 313 d.C., com o Édito de Milão, assinado pelo imperador Constantino. Tornou-se a única religião oficial do Império sob Teodósio (379-395 d.C.) e todos os outros cultos foram proibidos. Após a morte de Teodósio em 395, seus dois filhos Arcádio e Honório herdaram as duas metades do império: Arcádio tornou-se governante no Oriente, com a capital em Constantinopla, e Honório tornou governante no Ocidente, com a capital em Mediolanum (atual Milão), e mais tarde em Ravenna.
Os concílios ecumênicos
A Igreja Cristã era dividida em cinco patriarcados tradicionais, apostólicos: os bispos de Jerusalém, Antióquia, Alexandria, Constantinopla e Roma. O Bispo de Roma foi reconhecido pelos Patriarcas como “o primeiro entre iguais”, mas não havia uma autoridade central, a instituição se baseava na colegialidade dos bispos, metropolitas (cidades principais) e patriarcas, reunidos em Concílio, os chamados “Concílios da Igreja Indivisa”.
São Concílios convocados por iniciativa do Imperador que via na unidade da fé um pressuposto para a unidade do Império. Geralmente foram celebrados no Oriente, com escassa participação ocidental. A presença dos delegados romanos e ratificação de Roma garantia a ecumenicidade do Concílio. A assinatura final do Imperador tornava as decisões conciliares obrigatórias no Império.
1) Nicéia (325): Condenou Ario e formulou o Credo niceno. Definiu que o Verbo, Jesus, é Deus verdadeiro, gerado de Deus verdadeiro, e tem a mesma substância do Pai.
2) Constantinopolitano I (381): Reafirmou o Credo niceno e condenou Apolinário. Proclamou que o Espírito Santo procede do Pai e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.
3) Éfeso (431): Condenou Nestório e aprovando o título de Mãe de Deus (Theotokos).
4) Calcedônia (451): Condenou Êutiques e formulou uma profissão de fé cristológica: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, tem uma só pessoa (divina) em duas naturezas (divina e humana), sem divisão nem separação.
5) Constantinopolitano II (553): Condenou os “Três Capítulos” (escritos filo-nestorianos) e rejeitou o origenismo. Sublinhou a unidade da Pessoa do Verbo encarnado.
6) Constantinopolitano III (680-681): Condenou o monotelismo, reafirmando as duas naturezas da única Pessoa de Cristo, para afirmar a existência, nele, de suas vontades (divina e humana).
7) Nicéia II (787): Condenou o iconoclasmo (proibição do culto às imagens): justificando o culto das imagens (ícones), naturalmente culto de honra e não de adoração. Foi um grande problema na vida da Igreja oriental.
Da não aceitação das decisões conciliares surgiu divisão na Igreja:
a) Os Pré-Efesianos, ou Nestorianos, que chegaram junto até o Concílio de Éfeso (431): Igreja Assíria do Leste, que, em seu apogeu, teve 400 Dioceses.
b) Os Pré-Calcedônicos, que não incorporaram as decisões do Concílio de Calcedônia: Igrejas Siriana, Armênia, Copta, Etíope, Mar Thoma (da Índia). Algumas outras Igrejas orientais, como a Maronita, a Melquita e a Caldéia, séculos depois, se uniriam à Igreja de Roma, mantendo a sua autonomia, e são denominadas de “Uniatas”.
8) Constantinopolitano IV (869-870): Condenou Fócio, patriarca de Constantinopla. Decisão não aceita pelos ortodoxos, pois viram nessa atitude de Roma uma intromissão ilegítima na vida de um outro Patriarcado.
Destes concílios, a Igreja Romana reconhece os oito, as Igrejas ortodoxas reconhece sete, os cristão evangélicos aceitam todas as decisões conciliares que estejam de acordo com a Bíblia.
Igreja Medieval
O Império Romano do Ocidente sofreu invasão dos povos bárbaros (qualquer povo cuja língua não fosse o latim) e, já enfraquecido internamente, caiu em 476 com a deposição do imperador Rômulo Augústulo. Outros reis estabeleceram-se em Roma, embora não mais usassem o título de “Imperador Romano”. O Império Oriental, com capital em Constantinopla, continuou a existir por quase mil anos, até 1453.
A queda de Roma foi o fim da Antiguidade e início de uma nova época chamada de Idade Média. Uma classificação muito comum divide a era em três períodos:
1º. Idade Média Antiga que decorre do século V ao X;
2º. Idade Média Plena (ou Idade Média Clássica) que se estende do século XI ao XIII;
3º. Idade Média Tardia (ou Baixa Idade Média), correspondente aos séculos XIV e XV.
A igreja do ocidente se torna a Igreja Católica Romana
A Igreja substituiu as instituições romanas no Ocidente, até ajudando na segurança de Roma no final do século V. Muitas das tribos germânicas já eram cristianizadas, mas a maioria delas era seguidora do Arianismo. Eles rapidamente converteram-se a fé Católica, ganhando mais lealdade da população romanizada local e ao mesmo tempo reconhecimento e apoio da Igreja Romana. A idéia de um Império Romano como um majestoso Império Cristão com um único governante continuou a seduzir muitos governantes poderosos. Carlos Magno, Rei dos Francos e dos Lombardos, até foi coroado como Imperador Romano pelo Papa Leão III em 800.
O Cisma Ocidente-Oriente
O Grande Cisma do Oriente foi a cisão (cisma) formal da unidade entre a Igreja Romana e a Igreja Ortodoxa, que tornou-se documentalmente evidente em 1054. A divisão do império e a queda do Império romano do Ocidente enfraqueceram a unidade da igreja.
Cresceu as diferenças entre as Igrejas das duas capitais imperiais: Constantinopla (depois chamada de Bizâncio), capital do Império do Oriente, e Roma, capital do Império do Ocidente, a primeira de cultura grega e a segunda de cultura latina. O Império Romano do Ocidente foi destruído pelos povos ditos “bárbaros” no século V, concorrendo para o fortalecimento da Igreja de Roma como força cultural, moral e espiritual, do que seria depois (com hegemonia germânica) denominado de Sacro-Império Germânico Romano, dando lugar ao papado como poder político. O Império Romano do Oriente subsistiu por mais mil anos, até o século XV, com os imperadores mais fortes que os patriarcas, em um sistema conhecido como césaro-papismo.
Um conflito entre o Ocidente e o Oriente ocorreu de 456 a 867, sob o patriarca Fócio em razão da “cláusula filioque” no Credo. Fócio condenou a sua inclusão no Credo da Cristandade ocidental e lançou contra ela a acusação de heresia.
Quando Miguel Cerulário se tornou patriarca de Constantinopla, no ano de 1043, iniciou uma disputa com o papa romano Leão IX sobre práticas eclesiásticas que a Igreja Romana começou a diferenciar da Grega, como a adição do filioque e o uso de pão ázimo na eucaristia.
Roma enviou o Cardeal Humberto a Constantinopla em 1054 para tentar resolver este problema. No entanto o enviado papal excomungou Cerulário em Constantinopla, um ato entendido como a excomunhão de toda a Igreja Grega. Cerulário, como o sínodo, então excomunhou o papa e a Igreja latina.
A escolástica
A partir do século IX, desenvolveu-se a principal linha filosófica do período, que ficou conhecida como escolástica. Surgiu da necessidade de responder às exigências de fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade e, por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. No século XIII, Tomás de Aquino incorporou elementos da filosofia de Aristóteles no pensamento escolástico. A questão chave que vai atravessar todo o pensamento filosófico medieval é a harmonização de duas esferas; “a fé” e “a razão”. Outros nomes da Escolástica são: Anselmo de Cantuária, Alberto Magno, Robert Grosseteste, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoreggio, Pedro Abelardo, Bernardo de Claraval, João Escoto Erígena, João Duns Scot, Jean Buridan e Nicole Oresme.
A Pré-Reforma
A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica, negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.
No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante. Entre outras idéias, Wycliffe ensinava que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu seguidores foram conhecidos como “lolardos”.
Jan Hus (1369-1415) iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Os seu seguidores ficaram conhecidos como os Hussitas. A igreja católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo.
Girolamo Savonarola (1452-1498) foi um padre dominicano que pregava em Florença chamando a população à vida da virtude cristã. Seus sermões e sua personalidade causavam um profundo impacto na população. Um grande conselho, com representantes de todos os cidadãos passou a governar a república e a lei de Cristo deveria ser a base da vida política e social. Savonarola terminou preso por ordem papal e condenado à morte. Foi enforcado no dia 25 de maio e seu corpo queimado.
Tabela Cronológica
Ano 30 d.C. Crucificação, morte, ressurreição e ascensão de Cristo, tendo como governador da Galileia Herodes Antipas, e governador da Judéia, Poncio Pilatos (26 – 37 d.C.), tendo como imperador romano Tibério (14 – 34 d.C.).
Ano 50 d.C Concílio de Jerusalém – expansão do cristianismo através das viagens missionárias de Paulo. Tendo como imperador Romano deste período Cláudio (41 – 54 d.C.) sucessor da Calígula (34 – 41 d.C.).
Ano 70 d.C. Destruição de Jerusalém e do templo pelo general Tito, filho de Vespaciano, (69 – 79 ), que sucedeu depois de seu pai de 79 a 81 d.C.
Ano 202 d.C. O imperador Stimo Severo decretou que era ilegal tornar – se judeu ou cristão, no seu reinado (193 – 211).
Ano 251 d.C. Décio, imperador Romano, queria uma só religião no império, e iniciou a primeira perseguição universal em seu reinado, (249 – 251).Ano 257 d.C. -Valeriano (252 – 259), proibiu reuniões cristãs nos cemitérios.
Ano 305 d.C. Perseguição final, Deoclesiano (284 – 305), ordenou a destruição dos prédios das igrejas, e das escrituras.
Ano 306 d.C. Perseguição por Galério (305 – 311), até a promulgação do edito de tolerância.
Ano 313 d.C. Constantino (312 – 337), assina em Milão, o edito de tolerância, terminando a perseguição oficial do cristianismo, no Império Romano.
Ano 325 d.C. Primeiro Concílio de Niceia. A religião cristã é agora um polo de influência política dentro do Império Romano.
Ano 380 d.C. Teodósio I declara o cristianismo a religião oficial do Império Romano.
Ano 451 d.C. Concílio de Calcedônia, Roma assume o primeiro lugar como sede do cristianismo e Constantinopla o segundo lugar início da ascensão do poder papal.
Ano 476 d.C. Queda do império romano ocidental. Início da Idade Média.
Ano 754 d.C. Proibição de imagens por Constantino V, imperador Bizantino.
Ano 800 d.C. Carlos Magno coroado imperador romano pelo papa Leão III.
Ano 1054 d.C. Primeiro grande cisma do Cristianismo.
Ano 1095 d.C. Proclamação da primeira cruzada para libertar a Palestina do poder Maometano, pelo papa Ubano II.
Ano 1099 d.C. A segunda cruzada, dirigida por Godofredo toma Jerusalém do poder Maometano.
Ano 1087 d.C. Queda de Jerusalém por Saladino, curdo Muçulmano e Sultão do Egito, na época do papa Celestino III.
Ano 1453 d.C. Queda do império Bizantino, com a tomada de Constantinopla por Maometanos e os Turcos.